quinta-feira, 11 de agosto de 2011

QUEM DISSE QUE DIETA NÃO PODE SER GOSTOSA?






Talvez você conheça (ou seja )uma dessas pessoas que naturalmente comem pouco; mas será
que conhece alguém que não goste de comer? Hum, não sei se existe. A gente não come só para saciar necessidades fisiológicas, mas também porque é uma delícia. E, desde cedo, todo mundo aprende que comida se serve com emoções. Criança mal-criada fica sem sobremesa, quem se comporta ganha um doce. Por isso a idéia de fazer dieta pode levá-lo logo a pensar em fome, sacrifício, punição. Está no nosso imaginário: a palavra dieta já vem relacionada a uma folha de alface acompanhada de uma fatia de queijo branco ¿ nada apetitoso.

Acontece que a dieta não tem que ter esse peso desanimador. Porque a dieta ideal é aquela que leva em conta seus gostos e inclui uma ampla variedade de alimentos com calorias e nutrientes suficientes para uma boa saúde. Pense bem: controlar o peso, preocupar-se com o valor nutricional dos alimentos e mesmo ter vaidade são sinais de boa auto-estima. Com informação, você pára de reproduzir, sem pensar, hábitos alimentares herdados da família ou impostos pela publicidade. Quando, claro, isso é vivido com tranqüilidade. A palavra dieta, hoje tão estigmatizada, significava originalmente ¿modo de vida¿. Entre os médicos gregos da Antiguidade, o vocábulo díaita servia para todos os hábitos do dia-a-dia: comer, beber, dormir, namorar, exercitar-se e até pensar. Por essa óptica, dieta é um jeito de viver. Então, fazer dieta é só um jeito de cuidar da vida.

Dieta da não-dieta
Em começo de ano, muita gente faz dieta numa tentativa apressada (e culpada) de se livrar dos excessos cometidos nas férias e nas festas de dezembro. Ou dos quilinhos acumulados em anos de descaso com a alimentação. E acaba abusando de dietas da moda, shakes, simpatias. Mas a pressa é inimiga da manutenção. Perder peso de forma defi nitiva é um aprendizado e requer tempo. É preciso reduzir gradualmente a quantidade de calorias do cardápio e inserir, também pouco a pouco, atividades físicas. Metas ambiciosas de vários quilos eliminados por semana podem até funcionar num primeiro momento. Mas, sem educação alimentar, o indivíduo se coloca em risco, não tem suas metas mantidas a longo prazo e assim tende a perder a motivação para uma nova tentativa.

¿Durante uma dieta muito restritiva, o organismo se adapta a funcionar com pouca comida¿, explica Daniel Bandoni, nutricionista da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. ¿É um mecanismo fisiológico ¿ quando a pessoa retoma a alimentação normal, o corpo entende que é necessário armazenar energia.¿ Assim, além de ser muito radical, o faminto volta a acumular o peso inicial e pode engordar mais.

As calorias são nosso combustível, resultado da transformação dos alimentos em energia pelo organismo. Ao ser executada, qualquer ação do corpo consome certa quantidade de calorias. Você está queimando calorias neste exato momento, mesmo que esteja lendo a VIDA SIMPLES estendido numa rede. Porque seu coração, seus pulmões e seu cérebro estão em plena atividade, obrigado.

Até piscar os olhos gasta calorias. A questão é que, se você consome 2 mil delas por dia e só gasta 1500, seu corpo começa a estocar o excedente em forma de gordura. O endocrinologista Alfredo Halpern, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, criou em 1970 um método que facilita essa conta, publicado no livro A Dieta dos Pontos. Ele atribuiu uma pontuação a centenas de alimentos consumidos hoje. Um pão francês, por exemplo, equivale a 40 pontos. Assim, se seu limite diário for de 500 pontos, fica mais fácil saber o que um pãozinho representa. ¿É um sistema para que o indivíduo aprenda a controlar o que vai comer¿, diz o médico. ¿Eu, particularmente, não gosto muito da palavra dieta. Prefiro autocontrole.¿

Equilíbrio no garfo
Dieta, consciência, autocontrole... Depende da perspectiva. O mais importante é que, assim, a gente pode comer de tudo. Porque a vida é imprevisível ¿ você nunca sabe quando pode deparar com um quindim.

A conta não precisa fechar com exatidão contábil a cada refeição. Nem a cada dia. Um jantar leve, explica Halpern, pode compensar um almoço exagerado. Um domingo num festival de culinária pode ser equilibrado por uma semana mais moderada. E assim vai. Quando entende o que cada alimento representa para seu corpo, você desenvolve autonomia para comer bem. Pode cometer ousadias eventuais ¿ claro que pode! ¿ e fazer as devidas correções na seqüência.

Além de estabelecer prioridades, fazer substituições inteligentes também ajuda a manter o peso e, se for o caso, a eliminar quilos excedentes. Essa foi a estratégia do empresário José Marcelo Italiano, de 47 anos, ¿Chamo minha dieta de troca e, assim, não sinto que como menos¿, diz. Pois é, muita gente não gosta mesmo da palavra dieta. Ele trocou o açúcar por mel, a carne vermelha pelas brancas, as farinhas finas por versões integrais, o refrigerante por sucos e chás.

José Marcelo perdeu 12 quilos de barriga, sem passar fome. ¿Comer continua sendo um grande prazer¿, diz. Mais disposto, ele dorme melhor e pratica suas atividades físicas com mais disciplina. Reeducação alimentar é como lavar louça: parece mais chato e difícil antes de você começar.

E comida tem tudo a ver com motivação. A serotonina é o neurotransmissor responsável por desencadear no cérebro sensações agradáveis, de otimismo, prazer e bem-estar, como explica a nutricionista Sonia Tucunduva Philippi no livro A Dieta do Bom Humor. ¿E como é produzida a serotonina?¿, pergunta a autora, em clara provocação. ¿Entre outros caminhos, por intermédio da... alimentação.¿

Os carboidratos complexos, presentes nas versões integrais do arroz, do macarrão e dos pães, ajudam o organismo a liberar o açúcar gradualmente, promovendo uma experiência de bem-estar prolongada. Ao deliciar um chocolate, você sente isso de uma forma mais intensa, mas esse prazer é fugaz, dura só alguns minutos.

Os alimentos são capazes de nos deixar quimicamente mais predispostos a uma vida saudável e feliz. Mas, mal escolhidos ou em proporções inadequadas, eles se acumulam no corpo e se tornam um fator gerador de doenças e infelicidade. ¿O segredo que vale ouro é comer um pouquinho de tudo¿, ensina Sonia, que adaptou, em seus trabalhos, a pirâmide nutricional ao gosto do brasileiro.

Os carboidratos (arroz, mandioca, macarrão etc.), que nos dão energia, são a base da pirâmide ¿ você pode consumir de cinco a nove porções por dia. Um nível acima ficam as frutas (de três a cinco porções), os legumes e as verduras (entre quatro e cinco porções). Mais acima, nosso feijão e outras leguminosas, com uma porção, e o leite com seus derivados, em três porções. No topo, eles: doces e gorduras, com uma ou duas porções pequenas de cada. A priori, nada é proibido.



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